Gazeta da Sanches
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Para a história da dádiva de sangue II
Por José Machado (Professor), em 2012/05/161370 leram | 1 comentários | 332 gostam
A didáctica de conteúdos específicos também se faz por exemplo de práticas sociais
Vamos lá a recapitular então: as duas pessoas referidas que pertenciam ao conselho directivo da escola EB 2/3 Dr. Francisco Sanches tinham de fazer ou mandar fazer alguma coisa para se concretizar no Plano Anual de Formação aquela iniciativa prevista de atacar o problema do tabaco, porque o tabaco faz mal à saúde e na escola há muitos fumadores, mas há também muitos jovens que precisam de aprender que o tabaco faz mal à saúde. Portanto, o melhor é organizar uma campanha anti-tabágica, esclarecida e esclarecedora, sem precisar de impor leis anti-fumo, para já. Para já, porque se estava em 1987. Hoje, a legislação anti-tabaco e anti-fumo evoluiu para medidas que na altura se consideravam difíceis, senão mesmo impossíveis, de implementar.

Pois bem, na altura, em 1987, as professoras Maria José Lopes e Maria José Domingues, imbuídas daquele espírito de curiosidade que manda a escola fundamentar-se quando quer calçar a chinela de outro pé, foram ao IPO onde havia pessoas qualificadas para orientarem e até concretizarem acções de prevenção na área da saúde em causa – a prevenção do cancro devido ao uso do tabaco.

Esta viagem ao IPO pode considerar-se uma viagem de iniciação no sentido pleno do termo. De lá, a curiosidade veio transformada em causa científica e em causa profilática de saúde pública. Mais do que isso: em dever de estudo e em missão de ensino.

Afinal não são só as doenças que se transmitem, também as causas científicas, também as causas da saúde, também as causas da paz, também as causas do ambiente, etc., etc. Os bichinhos do conhecimento transmitem-se. Ora a Dra Isabel Andrade não só deu as melhores orientações às professoras Maria José Lopes e Maria José Domingues, sobre a acção pretendida anti-tabaco, como lhes passou para a corrente sanguínea o bichinho da sua outra fixação em termos de saúde pública: as campanhas de recolha de sangue. E aproveitando ali, à sua frente, duas professoras de outra escola, e de Braga, logo lhes passou para a mão documentos criados por outras escolas que já tinham aderido ao dever de promoção da dádiva de sangue. Quem foi para pescar, saiu pescado.

O regresso à escola daquelas duas professoras presume-se uma viagem de planos: e vamos chegar lá e dizer à Delegada do grupo de Ciências da Natureza que é a Luísa Ivo, uma mulher de causas, que até podemos ir mais longe que uma simples campanha de não fumadores, que até podemos desencadear na escola uma campanha de dádiva de sangue, que até podemos entrar em cheio pelas questões da saúde pública, como outras escolas já começaram a fazer, mas nós até que podemos ir mais longe e envolver os alunos, claro, a piada até vai ser mesmo esta ideia que estamos a ter de mobilizar os alunos, de os fazer passar a mensagem aos mais velhos, de os pôr a estudar a matéria do sangue, pode ser que outras disciplinas entrem no jogo e adiram ao projecto...

Chegadas a Braga e à escola, da exposição dos factos à delegada de grupo Luísa Ivo foi como chegar fogo a palha seca. A delegada logo disse que exporia o assunto ao grupo disciplinar e assim fez, que a adesão foi imediata. Para o corrente ano lectivo estava prevista a acção anti-tabaco, mas para o ano lectivo de 1988/89 previa-se desde já a 1ª campanha da Dádiva de Sangue. Iria a conselho pedagógico uma proposta de integração no Plano Anual de Formação e logo se veria. Portanto, no ano lectivo de 1987/88, mais precisamente em 17 de Novembro de 1987, a Escola Francisco Sanches inscreveu no seu Plano Anual de Formação da Escola a celebração do dia do não fumador, com a pompa e a circunstância requeridas: uma conferência proferida por um médico do IPO, o Dr. Mário de Oliveira, cirurgião de Oncologia, por indicação da Dra Isabel Andrade, à noite, no Ginásio da Escola, com a presença de duzentas e tal pessoas.

E aos 19 dias do mês de Setembro de 1988 o quarto grupo da escola propôs para o Plano de Actividades da Escola, entre outros, os objectivos de «desenvolver a consciência cívica, quer na área da ecologia, quer na área da solidariedade humana; promover uma campanha de dádiva de sangue entre professores e pais de alunos».

Antes, nas actividades de sala de aula, sobretudo na disciplina que então se nomeava Educação Visual, houvera a produção de uma grande cabeça de burro e mal havia se não se saísse com ela para a cidade, em campanha de exibição para chamar a atenção sobre os malefícios do tabaco – lavar cabeça de burro é gastador de sabão? - Logo havia também de sair um jornalista ao caminho dos alunos da turma da professora Dea Lamosa e fez do caso a notícia de tudo o mais que estava para acontecer nesse dia, à noite.

Para contextualizar melhor estas dinâmicas escolares deve-se ter presente que a escola Francisco Sanches funcionava, e ainda funciona, nas instalações que faziam parte do Colégio do Sagrado Coração de Maria, compradas pelo Estado em 1971 e abertas em 1973 como Ciclo Preparatório. No ano lectivo de 1987/1988, entrou em processo de renovação de instalações, com a edificação no seu território interior, que fora já a parte maior da quinta agrícola do referido Colégio, de cinco blocos em estilo moderno para salas de aulas e equipamentos. À Escola Francisco Sanches, que é hoje sede do Agrupamento de Escolas com o mesmo nome, constituído por esta escola e as duas escolas do 1º ciclo, S. Vítor e D. Pedro V, tem-se acesso pela Rua D. Pedro V ou pela Rua do Taxa, sendo por este lado a única entrada e saída dos alunos.


Comentários
Por Hermínia Alonso (Professor), em 2012/05/18
E já lá vão 24 anos. Fantástico! Obrigada, Zé Machado. Eu não sabia como tudo começou. Bela homenagem que aqui deixa às colegas pioneiras desta iniciativa. O Agrupamento só tem que manter viva a chama. Esta é uma grande causa. A causa de todos nós.

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